Estamos completando um mês de “casados”. Um mês desde aquela
festa deliciosa em que nossos amigos e parentes mais próximos nos prestigiaram
e ajudaram a criar uma experiência memorável na comemoração dos nossos dez anos
de união de almas!
Nesses momentos sempre nos sentimos tão íntimos e tão à
vontade com todos, que nos perguntamos inevitavelmente: É tão bom quando nos
encontramos, então por que nos vemos tão pouco? E quando a rotina volta,
passadas as comemorações, novamente vamos retornando aos nossos afazeres e
recolocando as distâncias. O estilo de vida contemporâneo contribui muito com
isso, mas o carinho e a memória afável daquele momento permanecem, isso é
fato!!!
No decorrer dos preparativos, confirmamos e descobrimos
amigos e companheiros de jornada até onde não esperávamos. Vivenciamos ligações
intensas em relações das quais nem esperaríamos tanto e isso foi gratificante
ao extremo. A cada dia, sentimos cada vez mais o quanto nosso coração se
engrandece e se fortalece no amor que compartilhamos entre nós dois e com
nossos amigos, que já podem ser considerados irmãos de alma!
Da mesma forma, alguns mal-entendidos ininteligíveis (o
pleonasmo foi proposital!) desestabilizam nossa segurança sobre a reciprocidade
de algumas relações... afinal, assim
como para comemorar, é aos amigos que
recorremos nos momentos de necessidade, dúvida, insegurança e, até mesmo, para
nos distrairmos dos problemas. Não fazemos isso com um cliente ou parceiro
comercial, com um fornecedor ou conhecido qualquer! Fazemos isso com os amigos
porque confiamos na empatia deles, ainda que eles também ocupem algum daqueles
papeis. Confiamos na sua tolerância, na sua paciência e aceitamos
automaticamente que eles entendem nossas intenções da melhor forma possível, em
vez de procurarem motivos para se afastar.
Conviver é um eterno jogo de entendimentos entre as partes,
e isso pode ser bastante complicado. Se aparece alguma inevitável fissura na
relação, é desejável que a parte que se sentiu ferida busque na própria relação
o curativo para a mazela e contenha o dano. Isso significa dar uma chance de se
reestabelecer a harmonia colaborativa que toda boa amizade e todo casamento
duradouro devem ter.
De tanto nos depararmos com a volatilidade de algumas
relações que prezamos e as quais nos entregamos sem reservas, sempre nos
perguntamos: como podemos passar da lista de amigos para a de desprezíveis, tratáveis
com indiferença e frieza tão rapidamente e por tão pouco? Porque nos sentimos
tentados a sermos tolerantes e a relevar as irritações bobas do dia a dia em prol da história de uma
amizade, se quando nós precisamos receber essa benesse, a recíproca nem sempre
é verdadeira? Por que várias vezes nós procuramos, ligamos, marcamos e até nos
locomovemos em ocasiões diversas e quando nos afastamos por qualquer motivo que
seja, ficamos no vácuo e no silêncio? E o pior de tudo é que começamos a pensar
“poxa, eu estava tentando ajudar/agradar; o que será que fiz errado?” e nem
mesmo temos a oportunidade de ouvir uma resposta. Sim, porque uma resposta é uma oportunidade de diálogo e
esclarecimento, de compartilhamento de pontos de vista diferentes, o que
permite a anulação do mal estar, o fortalecimento da confiança, a
intensificação dos sentimentos, o aprofundamento da relação. Sem diálogo, que
significa sentir-se seguro para comunicar o que sente e pensa, nossas vidas
ficam superficiais, volúveis, sem graça, sem sentido... não é de se admirar que
os problemas psicológicos/psiquiátricos sejam considerados os males do século.
Nesse panorama, começamos anos questionar nossa própria capacidade de
demonstrar amizade; questionamos nosso modelo de relacionamento; questionamos
nosso valor enquanto amigos e até como pessoas. É claro que essa percepção foi
sendo construída ao longo dos anos, não começou outro dia. No meio da angústia
de tentar entender esses fenômenos, amplificados nesse período de extrema
proximidade e intensidade que acontece durante a preparação de um casamento, nos
deparamos com uma citação que já lemos inúmeras vezes, mas nesse momento
específico fez um sentido enorme: “Era uma pessoa igual a cem mil outras pessoas.
Mas, eu fiz dela um amigo, agora ela é única no mundo”.
De repente, essa frase nos libertou! Não é o outro que é um
bom amigo, sou eu que faço dele um amigo. E nos demos conta que, efetivamente,
considerando as pequenas variações necessárias e inevitáveis, possuímos uma
razoável estabilidade de valores, expressões, interações e comportamentos, os
quais nos permitem resumir nossa identidade para qualquer um. O que nos torna especiais
aos olhos de alguns é o sentimento que
eles nos despertam.
Nossos melhores e mais confiáveis amigos não são aqueles que
agradam o tempo todo ou estão sempre disponíveis ou representam algum tipo de
vantagem. São aqueles que nos inspiram os sentimentos mais nobres. Aqueles que
inspiram confiança extraem comportamentos e palavras confiáveis. Aqueles que elevam nossa autoestima recebem
demonstrações de apoio e valorização. Da mesma forma, aqueles que nos tratam
com desconfiança inspiram comportamentos defensivos; os que nos tratam com
agressividade inspiram reações de ataque; os que agem com desdém ou indiferença
recebem o mesmo; os que agem como vítimas encontram um algoz a altura. Esses últimos
exemplos não nos consideram amigos desejáveis... com razão!
Obviamente, o contrário também se aplica: com que tipo de
ação ou reação estamos perturbando essa ou aquela relação? Sempre vale a pena
avaliar se não estamos favorecendo o mal estar por desatenção. Mas, como as
relações são circulares, depois que o problema começou não faz a menor
diferença saber quem foi o ponto de partida, o dano está feito e precisa ser
encarado.Humildade, paciência, cabeça fria e foco no afeto podem
sempre reverter esse quadro. O último empecilho é o livre arbítrio. Podemos até
insistir, mas o outro pode decidir continuar onde e como está, defendendo sua
trincheira. É um direito dele.
Felizmente, conhecemos muitas pessoas que nos inspiram os mais
nobres sentimentos: amor próprio, vontade de participar, confiança, segurança, lealdade,
tolerância, paciência, etc. Eles nos tornaram bons amigos sendo simplesmente
assim! Para aquelas que possam ter vivido experiências não tão positivas ao
longo da vida, sempre nos esforçamos para ser a diferença, para fazer por elas
o que outros fizeram por nós em tantas ocasiões e, com isso, nos tornaram melhores
amigos. Nem sempre funciona; não somos perfeitos e nem todos estão no momento
ou em condições de encontrar sua cura. Nosso desejo para eles é que as feridas
que possamos ter causado nessa tentativa possam cicatrizar adequadamente. No
nosso casamento também é assim: feridas nunca são negligenciadas, pois estamos
sempre dispostos a fazer os curativos e nos livrarmos das armas. Por entender a
importância de praticar verdadeiramente o respeito, desejamos que, aqueles que queiram seguir
adiante para o distante, sigam com boas lembranças de nós e, no máximo,
cicatrizes. Nunca sequelas!
Gratidão a todos os que nos transformaram em amigos! Estamos
ao alcance de vocês pra tudo que precisarem e para o que não precisarem
também!!!!
Abraços e até a próxima!